O que vivemos atualmente talvez nunca tenha sido por nós imaginado… (com excepção das mentes desses maravilhosos cineastas).
Não me refiro apenas à pandemia em si. Mas ao que a pandemia está a criar: situações de paragem total. Em escolas, em trabalhos, em empresas, em companhias aéreas, na poluição, no nosso stress diário, na nossa correria constante, em serviços. Em vidas e em famílias.
Uns olham-no como umas férias. Outros como uma prisão.
Há ainda o medo. O medo de que o vírus entre nas nossas casas. E o medo que surge sempre perante o desconhecido. Como será viver assim? E como será viver depois disto? Conseguiremos voltar a tudo o que conhecemos? E será que vamos querer voltar a tudo o que conhecemos, como o conhecemos, sem qualquer alteração?
Propagam-se cada vez mais pelas redes sociais, textos e artigos que nos fazem reflectir sobre o porquê de isto estar a acontecer ou qual o sentido que lhe podemos dar. Mas desacreditemos que todos nós vamos viver este momento como uma espécie de “retiro” necessário, e desejado e…bom.
Parece que a corrida desenfreada em que andámos no dia-a-dia, no nosso consumismo, no nosso trabalho levou-nos a ser uma sociedade em que os indivíduos estão cada vez mais descentrados de si mesmos… E é sim, esta uma oportunidade para pararmos e nos encontrarmos com nós mesmos. Só que, parar não é fácil. Não é fácil porque nos desabituámos de estar parados e não sabemos o que fazer quando todos os nossos “vícios” quotidianos nos são repentinamente retirados.
Para além disso, parar obriga a um encontro “cru” com nós mesmos e com aqueles que ainda nos rodeiam e que estão nas nossas casas.
Encontrarmo-nos realmente connosco e com os outros sem sairmos para um passeio para nos distrairmos, sem podermos “bater a porta” e sair depois de um conflito e discussão. Desta vez, o “apanhar ar” será noutra divisão, da mesma casa. Assim, não há mais oportunidade de fugir. De fugir daquilo que nos distancia. É tempo de depararmo-nos, confrontarmo-nos e estarmos com tudo aquilo que somos e com tudo aquilo que os outros, que vivem connosco, também são. E será talvez uma das melhores (mesmo que desafiantes) oportunidades para harmonizarmos distâncias.
Mas nem todos estão acompanhados. E os que não estão, terão de forma intensa, que entrar também em contacto total consigo mesmos e encontrar uma forma de desfrutar da sua própria companhia. E conhecer-se como nunca anteriormente.
Tempos estes…
Que nos mostram que todos estamos ligados… Que o que acontece no “final do mundo” acontece aqui também, que o que acontece a um de nós tem uma forte possibilidade de acontecer a qualquer outro de nós.
E os afectos e as relações? E os abraços e o contacto com o outro? Que foram substituídos em grande parte por um contacto excessivamente virtual, antes de tudo isto acontecer e que, para muitos de nós agora, é o único meio de contacto. Sentiremos saudades? Do contacto físico com os outros? Dos tais abraços? Das tais brincadeiras sem “rede”? Da vida social fora das redes sociais? Nada substitui a presença física do outro. E esta é uma oportunidade para a valorizarmos.
E também uma oportunidade para valorizarmos tantas coisas que, no meio das TANTAS coisas que temos, que criaram uma sociedade cada vez mais insatisfeita, deixámos assim, de valorizar.
É uma oportunidade para valorizar a nossa liberdade, a Natureza, o contacto com os outros, as nossas escolas, o nosso trabalho, uma ida ao cinema, ao teatro ou tão somente ao café ou à padaria. Para valorizar a beleza de observar uma sociedade no seu aglomerado de vidas e de histórias passeando-se pela rua. E, tão somente, valorizarmos o ar que respiramos. E que a muitos agora falta, ou vemos faltar…
Será que vamos aprender algo com isto?
Percebemos ainda que nada está garantido. Que tudo pode mudar de um momento para o outro. Que muitos dos nossos planos agora estão em “Stand By”. E que as mudanças fazem parte da vida.
Desta vez, estamos todos no mesmo barco… Ou no mesmo mar, pelo menos.
A situação é global.
Não é um problema de uns e não de outros.
Não são os refugiados, ou os países em desenvolvimento.
Desta vez…Somos todos!
Muito obrigada pelas suas palavras vêm sempre no tempo certo será coincidência ou destino? Não sei mas estou adorar conhecer as suas ideias.
Querida Sara, fui tua formanda no curso de técnicas de mediação e relaxamento para crianças do Zen Kids em 2018. Adorei ler-te nesta reflexão. Vai muito ao encontro do que tenho vindo a sentir durante este período, e do sentido que dei a algo tão "sem sentido". Tenho fé que vamos mesmo ficar todos melhor depois de tudo isto, ou pelo menos grande parte, assim o espero! Parabéns pela iniciativa das partilhas feitas e pelo Website, está muito giro! Beijinhos grandes e tudo de bom!!!